O "Theatrum Orbis Terrarum" ("Teatro do Globo Terrestre") de Abraão Ortélio, publicado em 1570 em Antuérpia, considerado o primeiro atlas moderno
Portugal assumiu uma liderança no ciclo oriental de navegações, impulsionado pela expansão mercantil europeia. Suas expedições marítimas buscavam uma rota para chegar ao Oriente, navegando em direção sul e Oriente.
A) Fatores do Pioneirismo:
Diversos fatores contribuíram para o pioneirismo português nessa empreitada. Em primeiro lugar, a centralização política, que foi resultado de uma formação de uma monarquia nacional precoce. Esse processo teve seu ápice após a Revolução de Avis, no século XIV, durante a Dinastia de Borgonha. Além disso, a burguesia mercantil portuguesa investiu em estudos e em empresas náuticas, sendo o infante Dom Henrique, também conhecido como o Navegador, uma figura fundamental nesse contexto. Ele estabeleceu a famosa "Escola de Sagres" em 1418, impulsionando o conhecimento e a prática da navegação.O Infante D. Henrique, o Navegador, personifica a gesta dos descobrimentos
A paz interna, a posição geográfica privilegiada e os portos desenvolvidos, resultado da rota do Mediterrâneo, também contribuíram para o sucesso das navegações portuguesas. Esses fatores possibilitaram que Portugal desse início às suas conquistas.
Em 1415, uma importante expedição militar resultou na tomada de Ceuta, na costa norte da África. A partir daí, os portugueses conquistaram ilhas no Atlântico, como o arquipélago da Madeira em 1419, os Açores em 1431 e a ilha de Cabo Verde em 1445. Nessas conquistas foram criadas às Capitanias Hereditárias, com destaque para a lavoura canavieira e o uso de trabalho escravo.
b) As Navegações e as Conquistas Portuguesa:
Avançando ainda mais, em 1434, o navegador Gil Eanes conseguiu ultrapassar o Cabo Bojador, antes considerado um ponto intransponível. Em 1482, Diogo Cão alcançou a foz do Rio Congo e estabeleceu feitorias em São Jorge da Mina, Luanda e Cabinda, impulsionando o comércio de especiarias e escravos.Réplica de caravela, utilizada a partir de meados do século XV na exploração oceânica
Caminho percorrido pela expedição de Vasco da Gama (a preto), por Pêro da Covilhã (a laranja) e de Afonso de Paiva (a azul) depois da longa viagem juntos (a verde)
Foi em 1488 que Bartolomeu Dias chegou ao Cabo das Tormentas, atualmente conhecido como Cabo da Boa Esperança. Essa conquista abriu caminho para que, em 1498, Vasco da Gama finalmente chegasse a Calicute, na Índia, após uma viagem de dois anos com um lucro impressionante de 6.000%. No entanto, apesar do sucesso, Vasco da Gama não conseguiu estabelecer uma relação comercial duradoura.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral liderou uma missão ao Oriente que resultou na descoberta do Brasil. Nessa expedição, 13 naus, comandadas por notáveis navegadores como Nicolau Coelho, Bartolomeu Dias e Duarte Pacheco, partiram da praia do Restelo em 9 de março de 1500. Durante a jornada, enfrentaram tempestades e naufrágios, até que, em 22 de abril do mesmo ano, "acharam" o Brasil. Essa descoberta teve impactos significativos na história do nosso país.
Rota seguida por Pedro Álvares Cabral em 1500 (em vermelho) e a rota de retorno (em azul)
As navegações portuguesas e suas conquistas não pararam por aí. Em 1501, João da Nova foi despachado para explorar a rota do Oriente, aportando no Brasil. Em 1502, Vasco da Gama liderou sua segunda expedição. Já entre 1505 e 1515, Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque alcançaram vitórias importantes no Oriente.
Francisco de Almeida foi nomeado vice-rei e estabeleceu o domínio luso na costa oriental africana. Enfrentando a oposição árabe, os quais receberam apoio Veneziano, ele conquistou territórios que se estendiam do golfo Pérsico à Índia, incluindo Calicute, Goa, Damão, Diu, Ceilão, Indonésia e a Ilha de Java. Acordos comerciais também foram estabelecidos com a China (Macau) e o Japão (1517/20).
De 1509 a 1515, Afonso de Albuquerque, como vice-rei, consolidou ainda mais o domínio português na região, ocupando pontos estratégicos como Goa, que se tornou a nova capital do vice-reinado, Malaca e Ormuz.
"Logo na primeira sessão do Conselho, os pareceres dividiram-se. A questão foi largamente debatida. Seria prudente partir para uma terra inimiga tão distante? Não seria carga demasiadamente pesada para Portugal? Os Impérios afro-asiático, que tanto haviam impressionado Covilhã, não eram muito diferentes dos reinos negros do Atlântico africano? Entrar em luta com estas potências orientais não significaria levar 'a ruína? Ademais, não se devia levar em conta a cobiça, que o comércio da Índia iria fatalmente despertar?"
Dias, Manuel Nunes, "o Descobrimento do Brasil". Livraria Pioneira, São Paulo, 1967, p.123.
Mar Português:
"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."
in, Fernando Pessoa: Antologia poética / organizador Álvaro Cardoso Gomes. Sl: Moderna, 1994. Col. Travessias.
Vamos agora explorar as consequências da expansão marítima promovida pelas navegações portuguesas. Esses eventos tiveram um impacto profundo nas relações internacionais, na economia e na sociedade da época. Vamos analisar cada um dos aspectos relacionados a esse tema.
O enfraquecimento do Império Português:
O enfraquecimento do Império Português foi uma consequência importante desse período. Primeiramente, houve um aumento significativo nos gastos com as feitorias e militares, o que trouxe dificuldades financeiras para o império. Além disso, os preços das especiarias caíram, afetando negativamente o lucro obtido por Portugal. Outro fator que contribuiu para esse enfraquecimento foi a concorrência cada vez mais intensa por parte de potências como Inglaterra e Holanda.
A expansão marítima e as suas consequências:
O deslocamento do eixo comercial do Mediterrâneo para o Atlântico-Índico foi uma mudança significativa nas rotas comerciais e no poder econômico das regiões envolvidas. Isso resultou na decadência das cidades mercantis tradicionais e teve um impacto positivo em Portugal e Espanha.
A consolidação do Estado Absolutista foi uma resposta ao enriquecimento decorrente da expansão marítima. Os governantes passaram a usufruir dos lucros obtidos, fortalecendo o poder centralizado e consolidando ainda mais o sistema político absolutista. Além disso, os países adotaram uma política econômica mercantilista, caracterizada pelo protecionismo e monopólio comercial.
Uma consequência importante foi a formação do sistema colonial tradicional, com a colonização da América. Isso resultou na renovação da escravidão nas colônias, tanto com a população indígena quanto com africanos trazidos como escravos. A burguesia mercantil se fortaleceu nos países atlânticos, aproveitando as oportunidades econômicas geradas pela expansão marítima.
A expansão marítima também teve um impacto cultural e religioso. A europeização do mundo ocorreu à medida que os europeus estabeleciam contatos com outras culturas e povos ao redor do globo. O cristianismo foi expandido para novas terras e houve a destruição das civilizações pré-colombianas na América, causando perdas culturais e demográficas significativas.
Essa expansão também impulsionou a revolução comercial em escala mundial, com um aumento no comércio europeu. A chegada de metais preciosos da América contribuiu para a chamada "Revolução dos Preços", uma escalada inflacionária decorrente do aumento da oferta de moedas.
Esses são apenas alguns dos aspectos que ilustram as diversas consequências da expansão marítima promovida pelas navegações portuguesas. Esse período marcou um divisor de águas na história e teve um impacto duradouro em todo o mundo.
Mapa Mental - Grandes Navegações
01) Portugal (ciclo oriental de navegações)
- Liderança Portuguesa;
- Expansão Mercantil Europeia;
- Expedições Marítimas, buscando chegar ao Oriente;
- Navegação: sentido Sul-Oriental;
- Inicialmente: descoberta do litoral africano;
02) Fatores do Pioneirismo:
- Centralização Politica, através da formação de uma monarquia nacional (precoce):
- Inicio com a Dinastia Borgonha (1138-1383);
- Máximo: Depois da Revolução de Avis (1385);
- Burguesia Mercantil:
- Investimento em estudos e empresa náutica;
- D. Henrique – O Navegador, 1418 – “criação da escola de Sagres”;
- Paz interna;
- Posição geográfica privilegiada;
- Portos desenvolvidos, resultado da rota do Mediterrâneo (“Italianos”);
03) As Navegações e as conquistas Portuguesas;
- 1415 – Expedição militar, tomou Ceuta;
- Conquistas de ilhas no Atlântico
- 1419: Arquipélago da Madeira;
- 1431: Açores;
- 1445: Ilha do Cabo Verde
- Aplicados as Capitanias Hereditárias;
- Lavoura canavieira;
- Trabalho escravo;
- 1434 – Gil Eanes atingiu Cabo Bojador;
- 1482 – Diogo Cão, foz do Rio Congo e Angola
- Fundada feitorias de São Jorge da Mina, Luanda e Cabinda (comercio de especiarias e escravos)
- 1488 – Bartolomeu Dias: chega ao Cabo das Tormentas;
- 1498 – Vasco da Gama – Chegou a Calicute;
- 2 anos de viagem;
- 6000 % de lucro;
- Não conseguiu estabelecer um relação comercial duradoura;
- 1500 – Pedro Álvares Cabral – Missão ao Oriente – Descoberta do Brasil;
- 13 Naus - Cabral entre outros como Nicolau Coelho (um dos capitães da frota de Vasco da Gama), Bartolomeu Dias e Duarte Pacheco;
- 1200 marinheiros;
- 9 de março de 1500 - Parte da praia do Restelo;
- 23 de março de 1500 - desaparece a embarcação de Vasco de Atíde - 1 nau;
- 22 de abril - "achamento" do Brasil
- 24 de maio - naufrágio de 4 naus, depois da tempestade 1 naus se desgarra - agora são 6;
- Bombardeia Calicute
- Estabelece feitorias em Cochim e Cananor (inimigos de Calicute);
- Na volta para Portugal - perde mais 1 nau - Encalhada em Melinde;
- Rendeu lucro de 2 vezes o custo total da viagem;
- 1501 – Despachada a armada de João da Nova - aportou no Brasil;
- 1502 – 2ª Expedição de Vasco da Gama
- 1505-1515 – Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque – vitórias no Oriente
- Francisco de Almeida - nomeado vice-rei
- Estabelece domínio luso na costa oriental africana;
- Vence a oposição dos árabe, que recebeu incentivo e apoio veneziano
- Desde o golfo Pérsico (Áden) à Índia (Calicute, Goa, Damão e Diu), ilhas do Ceilão, Indonésia, Ilha de Java;
- Acordos comerciais: China (Macau) e Japão (1517/20);
- 1509-1515 – 2º vice-rei - Afonso de Albuquerque, consolidou o domínio luso na região;
- ocupação de pontos estratégicos:
- 1510 - Goa - nova Capital do vice-reino
- 1512 - Malaca;
- 1514 - Ormuz
04) Enfraquecimento do Império Português: (resumo)
- Aumentos dos gastos com as feitorias e militares – dificuldades para o Império Português;
- Queda dos Preços das especiarias;
- Concorrência inglesa e holandesa;
05) Consequências da Expansão Marítima
- Deslocamento do eixo do Mediterrâneo para o Atlântico-Índico;
- Decadência das cidades Mercantis e detrimento a Portugal e Espanha;
- Consolidação do Estado Absolutista – Usufruindo dos seus lucros;
- Adoção da Política Econômica Mercantilista (protecionismo e monopólio);
- Formação do Sistema Colonial Tradicional – Colonização da América;
- Renascimento da escravidão nas áreas colônias (indígena e africana);
- Fortalecimento da burguesia mercantil nos países Atlânticos;
- Europeização do Mundo;
- Expansão do cristianismo;
- Destruição das civilizações pré-colombianas;
- Expansão do comércio Europeu (Revolução Comercial) em escala mundial;
- Revolução dos Preços: em virtude do afluxo de metais da América;
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